quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Orixá


Na mitologia yoruba, orixás yoruba Òrìsà; em espanhol Oricha; em inglês Orisha) são divindades ou semideuses criados pelo deus supremo Olorun. Os orixás são guardiões dos elementos da natureza e representam todos os seus domínios no aye (a realidade física em que os humanos estão inseridos segundo a tradição iorubá). Também existem orixás intermediários entre os homens e o panteão africano que não são considerados deuses, são considerados "ancestrais divinizados após à morte". Os orixás são cultuados no Brasil,CubaRepública DominicanaPorto RicoJamaicaGuianaTrinidad e TobagoEstados UnidosMéxico e Venezuela.
História
Na mitologia, há menção de 600 orixás primários, divididos em duas classes, os 400 dos Irun Imole e os 200 Igbá Imole, sendo os primeiros do Orun ("céu") e os segundos da Aiye("Terra").
Estão divididos em orixás da classe dos Irun Imole, e dos Ebora da classe dos Igbá Imole, e destes surgem os orixás Funfun (brancos, que vestem branco, como Oxalá e Orunmilá), e os orixás Dudu (pretos, que vestem outras cores, como Obaluayê e Xangô).
  • Exu, orixá guardião dos templos, encruzilhadas, passagens, casas, cidades e das pessoas, mensageiro divino dos oráculos.
  • Ogum, orixá do ferro, guerra, fogo, e tecnologia, Deus da sobrevivência.
  • Oxóssi, orixá da caça e da fartura, e do sofrimento.
  • Logunedé, orixá jovem da caça e da pesca.
  • Xangô, orixá do fogo e trovão, protetor da justiça.
  • Ayrà, usa branco, tem profundas ligações com Oxalá e com Xangô.
  • Obaluaiyê, orixá das doenças epidérmicas e pragas, orixá da cura.
  • Oxumaré, orixá da chuva e do arco-íris, o Dono das Cobras, Deus da transformação.
  • Ossaim, orixá das Folhas sagradas, conhece o segredo de todas elas.
  • Oyá ou Iansã, orixá feminino dos ventos, relâmpagos, tempestades, e do amor. * Oxum, orixá feminino dos rios, do ouro, deusa das riquizas materias e espirituiais, e da fertilidade.
  • Iemanjá, orixá feminino dos
    • mares e limpeza, mãe de muitos orixás.
    • Nanã, orixá feminino dos pântanos e da morte, mãe de Obaluaiê. Mais velha orixá do panteão africano.
    • Yewá, orixá feminino do Rio Yewa, considerada a deusa da beleza, da adivinhação e da fertilidade.
    • Obá, orixá feminino do Rio Oba, uma das esposas de Xangô, é a deusa do amor.
    • Axabó, orixá feminino da família de Xangô.
    • Ibeji, divindade protetor dos gêmeos.
    • Irôco, orixá da árvore sagrada, (gameleira branca no Brasil).
    • Egungun, Ancestral cultuado após a morte em Casas separadas dos Orixás.
    • Iyami-Ajé, é a sacralização da figura materna, a grande mãe feiticeira.
    • Omulu, Orixá da morte.
    • Onilé, orixá do culto de Egungun.
    • Onilê, orixá que carrega um saco nas costas e se apóia num cajado.
    • Oxalá, orixá do Branco, da Paz, da Fé.
    • OrixaNlá ou Obatalá, o mais respeitado, o pai de quase todos orixás, criador do mundo e dos corpos humanos.
    • Ifá ou Orunmila-Ifa, Ifá é o porta-voz de Orunmila, orixá da adivinhação e do destino, ligado ao Merindilogun.
    • Odudua, orixá também tido como criador do mundo, pai de Oranian e dos yoruba.
    • Oranian, orixá filho mais novo de Odudua.
    • Baiani, orixá também chamado Dadá Ajaká.
    • Olokun, orixá divindade do mar.
    • Olossá, orixá dos lagos e lagoas.
    • Oxalufan, qualidade de Oxalá velho e sábio.
    • Oxaguian, qualidade de Oxalá jovem e guerreiro.
    • Orixá Oko, orixá da agricultura.
No Brasil, existe uma divisão nos cultos: IfáEgungun, Orixá, Vodun e Nkisi, são separados pelo tipo de iniciação sacerdotal.
Em cada templo religioso são cultuados todos os orixás, diferenciando que nas casas grandes tem um quarto separado para cada Orixá, nas casas menores são cultuados em um único (quarto de santo) termo usado para designar o quarto onde são cultuados os orixás.
Alguns orixás são só assentados no templo para serem cultuados pela comunidade, exemplo: OduduaOranianOlokunOlossaBaianiIyami-Ajé que não são iniciados Iaôs para esses orixás.
Iyalorixá ou o Babalorixá são responsáveis pela iniciação dos Iaôs e pelo culto de todo e qualquer orixá assentado no templo, auxiliada pelas pessoas designadas para cada função. Exemplo o Babaojé que cuida da parte dos Eguns e Babalosaim que é o encarregado das folhas.
Apesar de serem de origem daomeanaNanãObaluaiyêIrokoOxumarê e Yewá, são cultuados nas casas de nação Ketu, mas são muito raros os Iaôs que são iniciados, houve casos de passar vinte ou trinta anos sem se iniciar ninguém para esses orixás que são cultuados em locais separados dos outros.
Existem orixás que já viveram na terra, como XangôOyáOgunOxossi, viveram e morreram, os que fizeram parte da criação do mundo esses só vieram para criar o mundo e retiraram-se para o Orun, o caso de Obatalá, e outros chamados Orixá funfun (branco).
Existem orixás que são cultuados pela comunidade em árvores como é o caso de Iroko, Apaoká, os orixás individuais de cada pessoa que é uma parte do orixá em si e são a ligação da pessoa, iniciada com o orixá divinizado; ou seja, uma pessoa que é de Xangô, seu orixá individual, é uma parte daquele Xangô divinizado, com todas as características, ou arquétipos.
Existe muita discussão sobre o assunto: uns dizem que o orixá pessoal é uma manifestação de dentro para fora, do Eu de cada um ligado ao orixá divinizado, outros dizem ser umaincorporação mas é rejeitada por muitos membros do candomblé, justificam que nem o culto aos Egungun é de incorporação e sim de materialização. Espíritos (Eguns) são despachados (afastados) antes de toda cerimônia ou iniciação do candomblé.

BIBLIOGRAFIA

  • VATIN, Xavier. Rites et musiques de possession à Bahia. Paris: L'Harmattan, 2005.
  • VERGER, Pierre Fatumbi, Sobre os orixás e o candomblé na África.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Iemanjá



Odô Iyá Yemanjá Ataramagbá,
ajejê Lodô, ajejê nilê!

Iemanjá era a filha de Olokun, a deusa do mar.
Em Ifé, ela tornou-se a esposa de Olofin-Odudua,
com o qual teve dez filhos.
Estas crianças receberam nomes simbólicos e todos tornaram-se orixás.
Um deles foi chamado Oxumaré, o Arco-Íris,
"aquele-que-se desloca-com-a-chuva-e-revela-seus-segredos."
De tanto amamentar seus filhos, os seios de Iemanjá tornaram-se imensos.

Cansada da sua estadia em Ifé,
Iemanjá fugiu na direção do "entardecer-da-terra",
como os iorubas designam o Oeste, chegando a Abeokutá.
Ao norte de Abeokutá, vivia Okere, rei de Xaki.
Iemanjá continuava muito bonita.
Okere desejou-a e propôs-lhe casamento.
Iemanjá aceitou mas, impondo uma condição, disse-lhe:
"Jamais você ridicularizará da imensidão dos meus seios."
Okere, gentil e polido, tratava Iemanjá com consideração e respeito.

Mas, um dia, ele bebeu vinho de palma em excesso.
Voltou para casa bêbado e titubeante.
Ele não sabia mais o que fazia.
Ele não sabia mais o que dizia.
tropeçando em Iemanjá, esta chamou-o de bêbado e imprestável.
Okere, vexado, gritou:
"Você, com seus seios compridos e balançantes!
Você, com seus seios grandes e trêmulos!"
Iemanjá, ofendida, fugiu em disparada.

Certa vez, antes do seu primeiro casamento,
Iemanjá recebera de sua mãe, Olokun,
uma garrafa contendo uma poção mágica pois, dissera-lhe esta:
"Nunca se sabe o que pode acontecer amanhã.
Em caso de necessidade, quebre a garrafa, jogando-a no chão."
Em sua fuga, Iemanjá tropeçou e caiu.
A garrafa quebrou-se e dela nasceu um rio.

As águas tumultuadas deste rio levaram Iemanjá em direção ao oceano,
residência de sua mãe Olokun.
Okere, contrariado, queria impedir a fuga de sua mulher.
Querendo barrar-lhe o caminho, ele transformou-se numa colina,
chamada ainda hoje, Okere, e colocou-se no seu caminho.
Iemanjá quis passar pela direita, Okere deslocou-se para a direita.
Iemanjá quis passar pela esquerda, Okere deslocou-se para a esquerda.
Iemanjá, vendo assim bloqueado seu caminho para a casa materna,
chamou Xangô, o mais poderoso dos seus filhos.

Kawo Kabiyesi Sango, Kawo Kabiyesi Obá Kossô!
"Saudemos o Rei Xangô, saudemos o Rei de Kossô!"

Xangô veio com dignidade e seguro do seu poder.
Ele pediu uma oferenda de um carneiro e quatro galos,
um prato de "amalá", preparado com farinha de inhame,
e um prato de "gbeguiri", feito com feijão e cebola.

E declarou que, no dia seguinte, Iemanjá encontraria por onde passar.
Nesse dia, Xangô desfez todos os nós que prendiam as amarras sa chuva.
Começaram a aparecer nuvens dos lados da manhã e da tarde do dia.
Começaram a aparecer nuvens da direita e da esquerda do dia.
Quando todas elas estavam reunidas, chegou Xangô com seu raio.
Ouviu-se então: Kakará rá rá rá...
Ele havia lançado seu raio sobre a colina Okere.
Ela abriu-se em duas e, suichchchch...
Iemanjá foi-se para o mar de sua mãe Olokun.
Aí ficou e recusa-se, desde então, a voltar em terra.
Seus filhos chamam-na e saúdam-na:

"Odô Iyá, a Mãe do rio, ela não volta mais.
Iemanjá, a rainha das águas, que usa roupas cobertas de pérolas."

Ela tem filhos no mundo inteiro.
Iemanjá está em todo lugar onde o mar vem bater-se com suas ondas espumantes.
Seus filhos fazem oferendas para acalmá-la e agradá-la.

Odô Iyá, yemanjá, Ataramagbá
Ajejê lodô! Ajejê nilê!
"Mãe das águas, Iemanjá, que estendeu-se ao longe na amplidão.
Paz nas águas! Paz na casa!"

(Do livro Lendas Africanas dos Orixás)

Pierre Fatumbi Verger/Caribé - Editora Corrupio